baguinho de arroz

Este blog é dedicado a um baguinho de arroz que cresce na minha barriga e encanta uns papás de 1ª viagem... >24/02/2006 O baguinho de arroz já cresce fora da barriga da mãe, mas continuamos a ser uns papás estreantes e encantados.<

segunda-feira, julho 09, 2007

Não sou filha de sangue, mas sinto-me como tal.
O meu coração não consegue fazer a distinção...e na realidade não o quero fazer.
Tento sempre não me impor, pois sei que não tenho direito, as ultimas horas são para a família...
Olho para ela e quase não a reconheço. Pego-lhe na mão e sim, lá está...As mãos delicadas que sempre me deram tanto carinho.
Tento olhar em redor e procurar a sua presença algures no quarto, mas é difícil abstrair-me da cama e da figura que ali está.
Dizem-me que não sabe que estou ali, mas quase que ia jurar que senti um movimento da sua mão, a tentar agarrar a minha....dizem-me que foi impressão.
Não consigo deixar de pensar que ali está a responsável por algumas das recordações mais felizes da minha infância...Recordo com tantas saudades os beijinhos repenicados que dava e se ouviam. A paciência infinita com que contava as mesmas historias vezes sem conta à mesa, para me fazer comer.
Os cheiros da casa, a sensação de segurança, as mãos sedosas que me lavavam o rosto....
É difícil despedir-me, gostava de ficar ali para sempre, como se ao agarrar-lhe na mão ela talvez quisesse ficar...mas tenho de ir.
Dei-lhe um beijo e disse-lhe ao ouvido que tinha de ir, não podia ficar mais... e descontrolei-me, não estava preparada para lhe dar o ultimo beijo, não estava e deixei-me levar num turbilhão de emoções e chorei. Chorei e solucei junto dela, na esperança que me dissesse “até amanhã” como da ultima vez. Mas nada, estava como que envolta num sono profundo sem retorno.
Não a queria largar... sempre lutei toda a minha vida para manter o controlo e ali tinha-o perdido. Mostrar as emoções aos outros torna-nos vulneráveis aos julgamentos....
Fui arrancada do meu pesadelo por uma voz grave, demasiado incisiva e fria que me fez estremecer. Era claro que não podia perder o controlo, não ali, não na frente dos que pertencem...eu não pertenço....
Quase de repente, as lagrimas secaram na minha cara e as ideias começaram a clarear, e saí....
À janela, olhando a imensidão que é o hospital, contemplo quase sem emoções as parede cinzentas...sinto que não é justo e penso que não devia ter vindo...
Tive quase a certeza que esta seria a ultima vez que a iria ver...
Voltei ao meu controlo, aquele que me esforcei toda a vida por ter...mas é difícil...sinto uma dor forte no peito e sinto que estou a flutuar numa espécie de realidade paralela....
Era uma tarde de muito vento....ontem. Era como se o vento tivesse vindo busca-la e se debatesse contra as paredes cinzentas daquele hospital, tentando cumprir a sua missão...Ontem foi a ultima vez que a vi e hoje já não está connosco.
Tento procura-la perto de mim, tentar que o vento me traga algum consolo para a minha tristeza...
Saudades, tantas saudades...

Etiquetas:

3 Comments:

Blogger Cocas said...

Lamento muito toda a tua dor, perdes-te uma pessoa que era muito importante para ti, lamento.

Em breve ficaram so as boas recordações, e toda a tua dor irá dar lugar a calmia. Força.

Um beijinho muito grande
Cocas

6:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito profundo e sentido tudo o que escreveste.
Lamento muito a tua dor!
Força e coragem!!
Beijinhos,

Sandra e Afonso
www.bebeafonsinho.blogspopt.com

6:11 da tarde  
Blogger Marta said...

Tenho a certeza que essa pessoas, onde quer que esteja, está feliz com esta homenágem.

Força e um grande, grande eijinho para ti.

2:39 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home